Crise (IPC Fase 3) poderá persistir até início de 2023, com necessidades a manterem-se altas
Fases de Insegurança Alimentar Aguda baseadas em IPC v3.1
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humanitária em vigor ou programad
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PANORAMA NACIONAL
Situação Actual
A maioria das famílias rurais enfrenta uma insegurança alimentar aguda Mínima (IPC Fase 1) sustentada pelas suas recentes colheitas referentes a época agrícola 2021/22. No entanto, nas zonas afectadas pela seca no sul e centro de Moçambique, a baixa colheita, esgotamento das reservas alimentares e oportunidades de geração de renda limitadas estão a levar a uma situação de Crise (IPC Fase 3) e de “Estresse” (IPC Fase 2). Na província de Nampula, situações de Crise (IPC Fase 3) poderão emergir nas zonas mais afectadas por tempestades/ciclone no início do ano, após uma colheita fraca, oportunidades de geração de renda limitadas e redução na capacidade de ajuda mútua entre as famílias. Em Cabo Delgado, persiste a situação de Crise (IPC Fase 3) e a de “Estresse” (IPC Fase 2), impulsionadas principalmente pelo conflito desde finais de 2017 e exacerbadas pelos recentes ataques em zonas anteriormente consideradas seguras, como o distrito de Ancuabe. No entanto, a distribuição regular de ajuda alimentar humanitária em algumas zonas de Cabo Delgado tem sustentando a situação de “Estresse”! (IPC Fase 2!).
Colheitas estão em curso em todo Moçambique, particularmente em zonas muito produtivas tais como os planaltos de Tete, Zambézia, Manica e Sofala, o interior de Nampula e Cabo Delgado, e Niassa. No entanto, uma produção agrícola fraca a fracassada poderá ocorrer em grande parte do sul de Moçambique na sequência de um período prolongado de seca em Fevereiro (Figura 1). Na região centro, a distribuição da precipitação abaixo da média e irregular também resultou no fracasso da produção e/ou redução dos rendimentos agrícolas no sul das províncias de Manica e Sofala. Nestas zonas afetadas pela seca, as famílias muito pobres e pobres poderão registar níveis de renda insuficientes para a compra de alimentos no mercado e, por conseguinte, não poderão satisfazer as suas necessidades alimentares mínimas. Como resultado, estas famílias estão a começar prematuramente a intensificar as suas estratégias típicas de sobrevivência, incluindo vender animais num nível acima do habitual, gastar suas economias, pedir dinheiro ou alimentos emprestado, envolver-se na produção e venda de carvão ou reduzir gastos em bens não alimentares para a compra de alimentos, resultando numa situação de “Estresse” (IPC Fase 2). No entanto, as famílias mais vulneráveis e pobres, que possuem poucos ou que não possuem animais, pouca ou nenhuma capacidade de produzir carvão e não podem fazer empréstimos, poderão estar a enfrentar uma situação de Crise (IPC Fase 3) e a recorrer a estratégias de sobrevivência baseadas no consumo, tais como como saltar refeições, reduzir o tamanho das refeições, consumir variedades de alimentos menos preferidas e aumentar o consumo de alimentos silvestres para minimizar os défices no consumo de alimentos.
Embora as estimativas oficiais de produção não estejam disponíveis, as estimativas do WRSI indicam que, a nível nacional, o índice de satisfação hídrica para o milho está 10 por cento abaixo da média de cinco anos. No entanto, a produção nacional pode estar próxima da média, sustentada pelos investimentos agrícolas em curso, como o programa SUSTENTA, principalmente nas zonas muito produtivas. Por outro lado, as chuvas tardias de Abril melhoraram os níveis da humidade residual do solo, sustentando a produção de culturas e hortícolas da segunda época no centro e sul de Moçambique. A colheita da segunda época poderá estar próxima da média, assumindo que a maioria das famílias no país tenham acesso a sementes, enquanto, por outro lado, está provavelmente em curso a distribuição de sementes por ONGs nas zonas afectadas por ciclones. Na zona semiárida do sul da província de Tete, distritos de Guro e Tambara no norte da província de Manica, e partes da província central de Sofala, as culturas da época principal também foram afectadas por estiagens prolongadas, distribuição irregular das chuvas e temperaturas atipicamente elevadas. Como resultado, a maioria das famílias pobres já esgotaram as suas próprias reservas de alimentos e dependem de compras no mercado muito mais cedo do que o normal, levando a uma situação de “Estresse” (IPC Fase 2). As famílias mais pobres poderão continuar a expandir as suas estratégias de sobrevivência, como o consumo de alimentos menos preferidos, envolvimento na produção e venda de carvão em mercados mais remotos, venda de animais a níveis acima do habitual, gastar suas economias se disponíveis e compra de alimentos a crédito ou empréstimos de alimentos para a satisfação das suas necessidades alimentares básicas.
Em Cabo Delgado, a situação de Crise (IPC Fase 3) persiste devido ao conflito em curso causando um deslocamento de famílias e rompendo o acesso a renda e aos alimentos. De 1 a 14 de Junho, os ataques dos insurgentes no leste de Cabo Delgado, incluindo partes anteriormente livres do conflito dos distritos de Ancuabe e Chiúre, deslocaram mais de 23 mil pessoas de acordo com a Matriz de Rastreamento de Deslocados da OIM. Antes de Maio, os insurgentes frequentemente desencadeavam ataques em pequena escala principalmente em Macomia, Mueda, Nangade e Meluco, com pequenas células insurgentes procurando saquear alimentos e suprimentos de lugares desprotegidos. A maioria dos deslocados internos continua dependente da assistência humanitária de emergência para cobrir os défices de consumo de alimentos. Alguns deslocados internos que vivem nos centros de reassentamento/acomodação também ganham renda com a venda de ofertas/ajuda, e com oportunidades limitadas de trabalho qualificado e ocasional. Quando as famílias deslocadas conseguem alguma renda, a maior parte desta é gasta na compra de alimentos. Em zonas onde a assistência alimentar humanitária é regular pelo menos uma em cada cinco famílias com 25 por cento das necessidades alimentares, a situação de “Estresse”! (IPC Fase 2!) está presente.
Nas zonas costeiras e intermédias de Nampula severamente afectadas pelo ciclone tropical Gombe e duas tempestades tropicais, a situação de Crise (IPC Fase 3) pode estar emergindo entre famílias mais pobres com a diminuição das reservas alimentares das famílias. As famílias mais pobres também têm um acesso limitado à renda para compra de alimentos no mercado para cobertura dos seus défices de consumo de alimentos como resultado da perda de bens de subsistência e oportunidades de emprego limitadas à medida que as zonas se recuperam. Nos distritos da Ilha de Moçambique, Mogincual e Mossuril, o acesso aos alimentos também está a deteriorar na sequência de muitas famílias pobres terem perdido as suas casas, reservas de alimentos e os bens habitualmente usados para a geração de renda e acesso aos alimentos.
Entre meados e finais de Abril de 2022, a FAO, em colaboração com instituições governamentais provinciais e distritais a nível provincial e distrital e o FSC, realizou uma avaliação pôs ciclone Gombe em Nampula, Zambéziae. As conclusões do relatório Pós-Ciclone Gombe indicam que o ciclone resultou em cheias generalizadas, perda de culturas nos campos e perda de gado e infraestruturas de conservação de cereais. Nos distritos das províncias de Nampula e Sofala, as famílias reportam terem em média um a sete meses de reservas alimentares; no entanto, a percentagem das famílias que declaram ter reservas alimentares em cada distrito variou de 0 a 70 por cento. Para ajudar as famílias a se recuperarem do ciclone Gombe, a FAO defende a continuação da assistência alimentar, bem como o fornecimento e reparação de equipamentos de pesca e barcos, disponibilização de sementes de ciclo curto e outros insumos agrícolas para a segunda época e próxima época 2022/2023 para permitir que as famílias se recuperem rapidamente.
Os preços do milho estão a começar a baixar na maioria dos mercados com o início da colheita tardia. De Abril a Maio de 2022, os preços do milho baixaram na ordem de 3-21 por cento na maioria dos mercados monitorados, enquanto nos mercados de Lichinga e Mocuba o preço do milho permanece relativamente estável depois de baixar na ordem de 5-7 por cento no mês passado. O atraso nas reduções sazonais dos preços do mercado é causado pelo atraso nas colheitas e pela disponibilidade abaixo da média do milho em algumas zonas devido ao impacto de choques, tais como tempestades/ciclones, cheias e secas. Comparado com o ano passado, os preços do milho tiveram uma tendência mista. Em Maio de 2022, os preços estavam na ordem de 16-45 por cento abaixo dos preços do ano passado nos mercados de Maputo, Manica, Angónia, Mocuba e Lichinga, 7-24 por cento acima dos preços do ano passado nos mercados de Chókwe, Massinga e Mutarara, e no mesmo nível em todos os outros mercados. Da mesma forma, os preços do milho tiveram uma tendência mista em comparação com a média de cinco anos. Os preços de Maio de 2022 estiveram na ordem de 6-55 por cento acima da média de cinco anos em Maputo, Chókwe, Maxixe, Quelimane, Massinga, Mutarara e Montepuez, 6-15 por cento abaixo da média de cinco anos em Manica, Angónia e Lichinga, e estáveis em Mocuba. Os preços da farinha de milho e do arroz permaneceram estáveis de Abril a Maio de 2022 na maioria dos mercados monitorados. No entanto, no mercado de Chókwe, o preço da farinha de milho baixou 25 por cento, e o preço do arroz aumentou 6 por cento e 27 por cento em Lichinga e Inhambane depois de baixar 9 por cento e 21 por cento, respectivamente, no mês anterior. Dinâmicas locais de demanda e oferta provavelmente estão a impulsionar estas flutuações mensais dos preços da farinha de milho e do arroz. Tanto os preços da farinha de milho como do arroz tiveram uma tendência mista quando comparados com os preços do ano passado e com a média de cinco anos. Por exemplo, os preços da farinha de milho estiveram na ordem de 9-18 por cento acima dos preços do ano passado em Chókwe, Pemba, Angónia e Lichinga, 6-10 por cento abaixo dos preços do ano passado em Maxixe, Massinga, Mocuba e estáveis em todos os outros mercados monitorados. Em comparação com a média de cinco anos, os preços da farinha de milho estiveram na ordem de 7 por cento e 25 por cento acima da média de cinco anos em Inhambane e Lichinga, respectivamente, e tiveram uma tendência estável em todos os outros mercados.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a inflação mensal aumentou em 1 por cento entre Abril e Maio de 2022, impulsionado principalmente pelos aumentos dos preços do trigo (15.6 por cento), gasolina (2.1 por cento), óleo de cozinha (3.7 por cento) sabão em barra (5.2 por cento), tomate (1.2 por cento), peixe fresco (1.4 por cento), e gasóleo (2.9 por cento). Em Maio, a inflação homóloga foi de 9,31 por cento com os Transportes e Alimentação e Bebidas Não Alcoólicas a aumentarem 13,65 por cento e 13,51 por cento, respectivamente. Os contínuos aumentos no custo dos produtos básicos estão a reduzir o poder de compra das famílias, principalmente para as famílias mais pobres nas zonas urbanas e periurbanas. Como resultado, muitas famílias estão reajustando os seus gastos tendo em conta os aumentos de preços. O aumento da inflação está sendo parcialmente impulsionada pelos altos preços globais do petróleo e dos combustíveis, bem como as rupturas globais da cadeia de fornecimentos relacionadas com a guerra entre a Rússia-Ucrânia e à pandemia da COVID-19. Estas tensões globais na cadeia de fornecimentos podem ser exacerbadas pelas tempestades/ciclones tropicais que atingiram o centro e norte de Moçambique no início deste ano e o conflicto armado em curso em Cabo Delgado. Segundo a Oxford Economics, os automobilistas moçambicanos estão a pagar 33 por cento a mais pelo combustível do que há 12 meses. O governo descartou a possibilidade de aplicar subsídios aos postos de abastecimento de combustíveis e padarias, embora estejam sendo definidas novas formas de aliviar o custo de vida das famílias mais vulneráveis.
Em Maio, os parceiros do FSC prestaram assistência a cerca de 374 mil beneficiários em Cabo Delgado e Niassa, depois da distribuição de assistência a cerca de 650 mil beneficiários em Abril. Devido aos recursos limitados, o PMA está a distribuir em cada mês uma ração completa para cobrir dois meses, resultando em meia ração mensal equivalente a 39 por cento de uma dieta de 2.100 quilocalorias. O PMA está a prestar assistência alimentar humanitária a cerca de 850 mil pessoas em Cabo Delgado e 74 mil pessoas em Nampula e Niassa. Outros membros do FSC estão a prestar assistência aos demais beneficiários. Por outro lado, o PMA prestou assistência a cerca de 33.400 beneficiários no distrito de Nangade, no norte de Cabo Delgado, o maior número de beneficiários desde a retomada das distribuições neste distrito em Fevereiro. Em Maio, aproximadamente 26 por cento da assistência alimentar humanitária foi em espécie, 67 porcento via senhas e 7 por cento em forma de rações de resposta imediata (IRRs), que visam populações em movimento ou em zonas de difícil acesso. No entanto, o PMA alerta sobre uma possível ruptura do programa em Outubro, mesmo com a continuação da abordagem meia ração, caso financiamentos adicionais não forem assegurados em breve. O PMA espera avançar para uma assistência selectiva visando populações mais vulneráveis, incluindo deslocados internos e comunidades de acolhimento, assim que o exercício de selecção de beneficiários baseado na vulnerabilidade for concluído no último trimestre de 2022. Os parceiros humanitários também levaram a cabo intervenções de formas de vida para aproximadamente 65 mil pessoas, principalmente deslocados internos em locais de reassentamento e comunidades de acolhimento. A assistência humanitária selectiva também está a ter lugar em zonas afectadas pelo ciclone Gombe e cheias resultantes deste fenómeno, onde o PMA prestou assistência a cerca de 97 mil pessoas em Maio nas províncias da Zambézia e Nampula. As necessidades humanitárias poderão permanecer elevadas nas zonas afectadas pelo conflito, cheias e secas.
Pressupostos
O cenário mais provável de Junho de 2022 a Janeiro de 2023 baseia-se nos seguintes pressupostos a nível nacional:
- Com base na confiança do modelo de previsão de períodos longos, poderá registar-se uma precipitação acima da média na metade sul da África Austral entre Outubro de 2022 e Janeiro de 2023 devido às condições previstas de La Nina, enquanto a precipitação abaixo da média é mais provável em algumas partes do norte e nordeste da região. O começo da época deverá ser normal. Há uma probabilidade média de ocorrência de cheias e/ou ciclones durante o período do cenário.
- A disponibilidade nacional de água poderá ser média a acima da média, impulsionada pela recarga a partir da época 2021/22 e pela precipitação média esperada em 2022/23. Como resultado, há uma maior probabilidade de transbordamento dos rios e aumento das descargas das barragens que resultam em cheias a jusante e destruição de campos agrícolas ao longo dos principais rios.
- A nível nacional, a disponibilidade do milho no mercado deverá estar próxima da média para o ano de consumo de 2022/2023, sustentada pela colheita principal de 2022, reservas de 2021 e produção da segunda época. No entanto, nas zonas semi-áridas afectadas pela seca no sul e centro, zonas severamente afectadas por tempestades e ciclones tropicais, principalmente a parte costeira de Nampula, e as zonas afectadas pelo conflito, o acesso das famílias ao milho será abaixo da média devido aos elevados preços deste cereal.
- O fluxo interno dos produtos alimentares para os principais mercados de consumo deverá ocorrer em níveis normais relativamente aos principais alimentos básicos, incluindo o milho em grão, movendo-se de zonas tradicionalmente muito produtivas para as deficitárias. Após a colheita, os fluxos comerciais para as zonas semiáridas do sul e regiões costeiras de Nampula deverão estar acima da média para satisfazer a procura do mercado.
- O comércio transfronteiriço com Malawi, Zimbabwe e África do Sul deverá manter se próximo da média. As exportações informais e formais de milho para o Malawi continuarão. Da mesma forma, o comércio de alimentos e bens não alimentares com o Zimbabwe será normal. A demanda por alimentos processados sul-africanos e alguns produtos agrícolas continuará alta nas zonas urbanas e periurbanas de Moçambique.
- Na sequência do fim do Estado de Calamidade Pública e o levantamento da maioria das restrições relativas a COVID-19, muitas famílias pobres têm vindo a aumentar o seu envolvimento em pequenos negócios e oportunidades de trabalho casual para geração de renda. No entanto, os aumentos dos preços dos combustíveis, transporte e pão, na sequência do início do conflito na Ucrânia, têm limitado o poder de compra das famílias, particularmente nas zonas urbanas e periurbanas, onde a dependência do transporte e do pão como alimento básico é alta. Com um poder de compra reduzido, muitas famílias pobres urbanas e periurbanas poderão aumentar o consumo da mandioca, batata-doce e inhame e poderão optar por meios de transporte mais baratos.
- De Junho a Agosto, as actividades de trabalho agrícola ocorrem apenas em zonas com produção de segunda época. As oportunidades de trabalho agrícola poderão aumentar gradualmente e poderão permanecer próximas da média com o início da estação chuvosa em Outubro/Novembro de 2022. A nível nacional, os salários agrícolas também poderão estar próximos da média. No entanto, em zonas afectadas pela seca, tempestades/ciclones tropicais e conflito, as oportunidades de trabalho agrícola e os respectivos rendmentos permanecerão abaixo da média devido à liquidez familiar abaixo da média para o pagamento de trabalhadores.
- A produção da segunda época até Setembro poderá ser média a acima da média, impulsionada pela precipitação média a acima da média em Abril e Maio de 2022, melhorando a humidade residual do solo. Como resultado, a principal época agrícola 2022/2023 poderá ser média, sustentada pela precipitação prevista.
- De Junho a Setembro de 2022, as famílias normalmente se envolvem em oportunidades de trabalho não agrícola para obtenção de renda. Nas zonas afectadas por choques, as famílias poderão aumentar a sua dependência em pequenos negócios e venda de serviços para obtenção de renda. O aumento da concorrência poderá resultar em níveis de renda abaixo do normal. De Outubro de 2022 a Janeiro de 2013, as famílias rurais poderão se envolver em actividades de trabalho agrícola, tais como preparação da terra, sementeira e sacha.
- Com base nas projecções de preços da FEWS NET, os preços do milho se estabilizam de forma atípica ao longo do período da projecção. Os preços acima da média em Maputo, Chókwe e outros mercados do sul devem-se provavelmente à disponibilidade abaixo da média do milho produzido localmente no sul e ao aumento dos custos de transporte e de transacção das zonas de produção. Na maioria dos mercados monitorados, os preços do milho poderão permanecer acima da média de cinco anos e acima, abaixo ou semelhantes aos preços do ano passado. Como tem sido típico, os preços da farinha de milho e do arroz poderão permanecer mais estáveis do que os preços do milho a granel; mas variações de curto prazo conduzirão a dinâmicas de oferta e demanda localizadas.
- A disponibilidade de alimentos nas famílias permanecerá próxima da média. No entanto, nas zonas semiáridas do sul e partes afectadas por choques das regiões centro e norte, as reservas de alimentos das famílias deverão estar significativamente abaixo da média devido à fraca colheita e/ou fracasso das culturas durante a principal época agrícola 2021/2022.
- A disponibilidade de alimentos silvestres poderá ser média em todo o país.
- O pasto e as condições físicas do gado permanecerão médias durante o período do cenário, levando a preços médios de venda dos animais. Nas zonas afectadas pela seca, as condições de pasto e água deverão ser favoráveis na sequência de chuvas médias em Abril e Maio, reduzindo as distâncias de viagem em busca destes recursos.
- De Outubro de 2022 a Janeiro de 2023, com o início da nova época agrícola, a precipitação média poderá resultar em danos típicos causados por pragas. No entanto, os períodos de seca podem resultar num aumento dos danos causados por pragas tais como a lagarta do funil de milho (LFM), gafanhotos, broca de milho, larva minadora e roedores.
- Em Cabo Delgado, os insurgentes continuarão a evitar a sua captura e a lançar ataques ocasionais a aldeias mal protegidas. A probabilidade de ataques de impacto elevado e baixas elevadas nos centros urbanos permanecerá baixa com a presença contínua das forças de defesa e segurança contra-insurgência. O número de incidentes violentos cometidos contra populações civis poderá continuar a aumentar, provavelmente atingindo os níveis observados em 2021 durante os meses secos de Maio a Outubro de 2022.
- O retorno dos deslocados para as suas zonas de origem está a decorrer gradualmente, mas a maioria dos deslocados permanecerá nos locais de reassentamento, locais temporários ou comunidades de acolhimento. Devido à produção agrícola limitada da época agrícola 2021/22 e com formas de vida básicas rompidos, os deslocados internos permanecerão dependentes da assistência humanitária de emergência para a cobertura dos seus défices no consumo de alimentos.
- O PMA poderá continuar a fornecer rações equivalentes a 39% das quilocalorias diárias até Setembro aos deslocados no norte de Moçambique. No entanto, esta organização da ONU alerta sobre uma possível ruptura do programa em Outubro, mesmo com a continuação da abordagem meia ração, caso não forem assegurados financiamentos adicionais em breve. O PMA espera avançar para uma assistência selectiva visando populações mais vulneráveis, incluindo deslocados internos e comunidades den acolhimento, assim que o exercício de selecção baseado em vulnerabilidade for concluido no último trimestre de 2022. Para as zonas afectadas pela seca no sul, ainda não há planos para uma assistência alimentar humanitária do PMA.
Resultados de segurança alimentar mais prováveis
De Junho a Setembro, a maioria das famílias pobres continuará a ter acesso a alimentos da sua própria produção e continuará com uma insegurança alimentar Nula (IPC Fase 1). No entanto, na maioria das zonas do centro de Moçambique, apesar do acesso a colheitas tardias e alguma produção da segunda época e pós-cheias, as famílias muito pobres poderão permanecer em situação de “Estresse” (IPC Fase 2), uma vez que normalmente são mais vulneráveis à insegurança alimentar aguda após sucessivos choques. No entanto, nas zonas do interior das províncias de Gaza e Inhambane e no sul das províncias de Manica e Sofala, onde a produção da época principal foi severamente afectada por chuvas abaixo da média e temperaturas atipicamente elevadas, as famílias pobres intensificarão as suas habituais estratégias de sobrevivência. Ainda assim, as famílias mais pobres, que possuem pouco ou não possuem nenhum gado e ou nenhuma capacidade para produção de carvão, poderão reduzir as suas despesas em bens não alimentares e adoptarão estratégias de sobrevivência baseadas no consumo. Estas estratégias incluem saltar refeições, reduzir o tamanho das refeições, consumir variedades de alimentos menos preferidos e aumentar o consumo de alimentos silvestres, para minimizar os défices no consumo de alimentos. Em Julho, a segurança alimentar das famílias poderá deteriorar-se uma vez que as reservas de alimentos baixas ou inexistentes, a elevada demanda do mercado e o acesso limitado à renda fazem com que as famílias mais pobres com recursos limitados se envolvam em estratégias de sobrevivência mais severas. Estas estratégias incluem retirar as crianças da escola, a menos que refeições sejam fornecidas ou enviar membros da família para comer em outro lugar. Um número crescente de famílias pobres necessitará de assistência alimentar de emergência para evitar o esgotamento dos bens essenciais de subsistência, levando à situação de Crise (IPC Fase 3) ao nível da área muito antes do início da época de escassez em Outubro/Novembro. A situação de Crise (IPC Fase 3) começará a surgir nos distritos da Ilha de Moçambique, Mogincual e Mossuril na província de Nampula devido ao acesso limitado aos alimentos, oportunidades limitadas de geração de renda e o enfraquecimento da capacidade das comunidades de acolhimento de apoiar as famílias severamente afectadas por tempestades/ciclones e cheias. As famílias pobres mais afectadas não conseguirão recuperar as reservas de alimentos através da produção pós-cheias devido à falta de sementes e oportunidades de trabalho de geração de renda limitadas. Em Cabo Delgado, a situação de Crise (IPC Fase 3) prevalecerá nas zonas afectadas pelo conflito, impulsionada pela expansão do conflito para novas áreas por pequenos grupos de insurgentes. Espera-se uma situação de “Estresse”! (IPC Fase 2!) em zonas onde os parceiros humanitários têm acesso e a distribuição de alimentos é mais regular.
De Outubro de 2022 a Janeiro de 2023, a situação de Crise (IPC Fase 3) poderá prevalecer nas zonas afectadas pela seca, uma vez que as famílias pobres continuarão a enfrentar défices no consumo de alimentos devido ao acesso ao mercado cada vez mais difícil, impulsionado por preços de alimentos acima da média. As famílias mais pobres, sem gado para vender e sem capacidade de produção e venda de carvão, poderão intensificar a sua recorrência a estratégias de sobrevivência indicativas de Crise (IPC Fase 3), tais como reduzir a quantidade de alimentos ou o número de refeições, aumentar o consumo de alimentos silvestres, o envio de um ou mais membros da família para casa der familiares noutras localidades e até a migração para locais com mais oportunidades de geração de renda, incluindo zonas ao longo dos principais corredores de produção e comercialização de carvão. O início das chuvas, normalmente em Novembro, poderá aumentar as oportunidades de trabalho agrícola, tais como a preparação da terra e sementeira. No entanto, os salários do trabalho agrícola nas zonas afectadas pela seca poderão ser mais baixos do que o normal devido ao menor poder de pagamento das famílias médias e ricas na sequência de vendas abaixo do normal de culturas da época 2021/22. Em Nampula, o esgotamento das reservas alimentares muito mais cedo do que o habitual e a redução da capacidade de apoio mútuo pode resultar em mais distritos em situação de Crise (IPC Fase 3), incluindo Liúpo, Meconta e Monapo. Por outro lado, a falta de resposta adequada por parte dos actores humanitários pode resultar no aumento da procura por zonas com maiores oportunidades de emprego, como minas artesanais ou urbanas. Projecta-se que a inflação continue a aumentar devido ao impacto do aumento dos preços dos combustíveis e do trigo internacionalmente, o que poderá limitar o poder de compra das famílias muito pobres, principalmente nas zonas urbanas e periurbanas, forçando-as a continuar a reajustar as suas despesas e reduzir o acesso a certos bens não alimentares a favor de alimentos básicos. Nas zonas afectadas pelo conflito, o deslocamento contínuo poderá limitar o acesso a oportunidades de geração de renda e a capacidade das famílias de se envolverem na época agrícola, resultando em situação de Crise (IPC Fase 3) e mantendo elevadas as necessidades de assistência humanitária.
Área | Evento | Impactos sobre os resultados de segurança alimentar |
---|---|---|
Nacional | Cheias moderadas a severas | Cheias severas em Janeiro de 2023 afectariam negativamente as famílias pobres localizadas nas principais bacias hidrográficas, particularmente nas regiões do norte, mas também ao longo da costa e no Baixo Zambeze e Limpopo. Dependendo da magnitude das cheias, as famílias pobres perderão milho, casas, reservas de alimentos e bens. As famílias afectadas poderão necessitar de assistência alimentar humanitária durante pelo menos três a quatro meses até que as colheitas pós-cheias sejam colhidas em Abril/Maio de 2023. |
Nacional | Atraso no início das chuvas e da época agrícola | Um atraso no início da época agrícola tardará as oportunidades de trabalho agrícola, incluindo a preparação da terra, sementeira e sacha. Isto limitaria o acesso das famílias à renda e reduziria o poder de compra das famílias num momento em que os preços dos alimentos normalmente aumentam devido ao aumento da demanda. |
Áreas costeiras | Ciclones e cheias nas zonas costeiras de Moçambique | O risco de ciclones e cheias é até Março de 2023. As famílias mais afectadas poderão enfrentar défices alimentares até se recuperarem através da produção pós-choque depois do período do cenário. |
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Sobre O Desenvolvimento Do Cenários
Para projectar as condições de segurança alimentar ao longo de um período de seis meses, a FEWS NET desenvolve um conjunto de pressupostos sobre eventos prováveis, seus efeitos e as respostas prováveis de diversos actores. A FEWS NET analisa esses pressupostos, no contexto das condições actuais e formas de vida locais para desenvolver cenários estimando as condições de segurança alimentar. Normalmente, a FEWS NET reporta o cenário mais provável. Para saber mais, clique aqui.
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