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- A insegurança alimentar aguda de Crise (IPC Fase 3) poderá persistir entre Outubro de 2024 e Janeiro de 2025 nas zonas afectadas pela seca induzida pelo El Niño durante a época agrícola 2023/2024 e nas zonas afectadas pelo conflito no norte do país. Isto deve-se a uma combinação de factores, incluindo o início da época de escassez em Outubro, colheita abaixo da média em 2024, oportunidades limitadas de geração de renda devido ao aumento da concorrência e preços dos alimentos básicos acima da média. Estas condições dificultarão o acesso aos alimentos pelas famílias pobres e muito pobres com poder de compra abaixo da média. Em Cabo Delgado, certas zonas que têm recebido assistência alimentar humanitária regular poderão melhorar para “Estresse!” (IPC Fase 2!).
- A situação de Crise (IPC Fase 3) poderá persistir até Março de 2025, particularmente na região centro, devido aos efeitos negativos do pico da época de escassez. Os preços dos alimentos básicos geralmente atingem o seu pico durante este período, e este ano estão acima da média, tornando o acesso aos alimentos nos mercados cada vez mais difícil para as famílias locais, especialmente as pobres e muito pobres. No entanto, com o início das colheitas em Abril e Maio de 2025, há potencial para uma melhoria do acesso aos alimentos, levando a uma redução da insegurança alimentar aguda para níveis Mínimo (IPC Fase 1) ou de “Estresse” (IPC Fase 2). Nas zonas afectadas pelo conflito em Cabo Delgado, a situação deverá permanecer volátil, uma vez que ataques esporádicos poderão persistir.
- As áreas de maior preocupação incluem as zonas semiáridas na região centro, que são remotas com acesso limitado aos mercados, e as zonas afectadas pelo conflito no sudeste de Cabo Delgado. As zonas costeiras e baixas correm o risco de cheias, especialmente devido a tempestades ou ciclones, especialmente entre Janeiro e Abril de 2025.
- Em Setembro de 2024, os parceiros do Grupo de Segurança Alimentar (FSC) prestaram assistência alimentar a cerca de 276.200 pessoas em Cabo Delgado e Nampula, cobrindo 40 por cento das suas necessidades caloríficas mensais. Este apoio cobriu 30 por cento da população alvo do Plano de Resposta Humanitária de 2024, com quase 60 por cento da assistência prestada em espécie e cerca de 40 por cento em dinheiro ou senhas. No distrito de Macomia, a assistência alimentar humanitária foi retomada em Outubro, depois de ter sido suspensa desde Maio de 2024 devido a preocupações de segurança. Os parceiros do FSC planeiam prestar assistência a 268.850 beneficiários com insumos agrícolas em preparação para a época agrícola 2024/2025, enquanto 4.865 pessoas receberão alimentos da Oxfam e da Caritas em Outubro e Novembro. A partir de Outubro, os recursos disponíveis permitirão assistência alimentar humanitária a aproximadamente 350 mil pessoas e fornecerão apoio às formas de vida de cerca de 165 mil pessoas durante o pico da próxima época de escassez, de Novembro de 2024 a Março de 2025. O objectivo geral é ajudar 1,1 milhões de pessoas afectadas pelo El Niño.
A análise neste relatório é baseada em informação disponível a 25 de Outubro 2024.
Cerca de 10 por cento da população total de Moçambique poderá enfrentar Crise (IPC Fase 3) durante o pico da época de escassez
A seca induzida pelo El Niño, as cheias (ligadas à tempestade tropical Filipo) durante a época agrícola 2023/2024 e o conflito no norte continuam a ter impacto no acesso aos alimentos e à renda pelas famílias pobres e muito pobres em Moçambique. Como resultado, observam-se elevados níveis de insegurança alimentar nas zonas semiáridas do centro e sul, bem como partes do sudeste de Cabo Delgado, onde a situação de Crise (IPC Fase 3) prevalece.
Na maioria das zonas semiáridas do centro e sul, a produção agrícola, a principal fonte de alimentos para a maioria das famílias rurais pobres e muito pobres, esteve muito abaixo da média durante a época 2023/2024 (Figura 1). As reservas de alimentos a nível familiar esgotaram-se muito mais cedo do que o habitual, especialmente para as famílias pobres e muito pobres, algumas das quais não tiveram quase nenhuma colheita. Estas famílias têm feito tudo por tudo para gerar a renda necessária para compra de alimentos nos mercados locais. Contudo, as oportunidades limitadas de auto emprego, combinadas ao aumento da concorrência e preços de alimentos acima da média, têm levado a défices no consumo de alimentos das famílias. Como resultado, as famílias mais afectadas têm recorrido a estratégias de sobrevivência indicativas de Crise (IPC Fase 3), tais como reduzir o número ou a quantidade das refeições, dar prioridade do consumo de alimentos às crianças, retirar as crianças da escola, procurar ajuda de familiares e aumentar o consumo de alimentos silvestres. Estas famílias não conseguem satisfazer as suas necessidades alimentares básicas na ausência de assistência humanitária, e há uma maior probabilidade de que cada vez mais famílias enfrentarão Crise (IPC Fase 3) até à colheita principal, em Abril de 2025.
O conflito em Cabo Delgado continua a ser uma das principais causas da insegurança alimentar aguda e tem agravado as desigualdades na região norte. A insurgência intensificou-se este ano, levando a desafios significativos de acesso humanitário e a um grande número de deslocados internos. Embora o conflito tenha diminuído ligeiramente devido à intervenção conjunta das forças governamentais, das forças de defesa ruandesas e das milícias locais, a insegurança persiste, causando ocasionalmente mais deslocações e impedindo as famílias de reconstruírem as suas vidas. As organizações humanitárias enfrentam desafios que por vezes interrompem as suas operações. Além disso, as crescentes necessidades humanitárias nas zonas afectadas pela seca induzida pelo El Niño representam um desafio significativo, dados os recursos insuficientes disponíveis. O Apelo de Emergência devido à Seca, lançado pela Equipa Humanitária Nacional (HCT) em coordenação com o governo de Moçambique, continua a mobilizar recursos para satisfazer as necessidades de assistência das comunidades afectadas.
As condições de La Niña poderão emergir no período de Setembro a Novembro de 2024 (60 porcento de probabilidade) e persistirão até Janeiro de 2025. Em Moçambique, a estação chuvosa de 2024/25 poderá trazer uma precipitação normal para acima do normal nas zonas centro e sul de Moçambique porém uma precipitação normal para abaixo do normal na parte norte da zona norte. Isto pode afectar as culturas inicialmente semeadas na região norte, mas, no geral, prevê-se uma época agrícola média. As temperaturas acima da média são prováveis até Março de 2025, e há um risco crescente de ocorrência de ciclones, ventos fortes e cheias de Janeiro a Março de 2025. O Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER) espera uma época agrícola média a acima da média em todo o país mas alerta para potenciais cheias em zonas baixas que podem necessitar de uma monitoria contínua.
Apesar do seu enorme potencial agrícola, Moçambique enfrenta desafios significativos de insegurança alimentar devido aos riscos climáticos e factores sociopolíticos. A maior parte do país é susceptível a fenómenos meteorológicos extremos, incluindo ciclones, cheias e secas, que podem afectar seriamente a produção e disponibilidade de alimentos. Muito recentemente, a seca induzida pelo El Niño e os impactos severos da tempestade tropical Filipo causaram a destruição generalizada de culturas, infraestruturas e formas de vida em partes do sul e centro do país, dificultando a recuperação das famílias pobres e muito pobres. Estas catástrofes também causaram o deslocamento de famílias, agravando cada vez mais a insegurança alimentar aguda ao romperem a produção de alimentos. Os elevados níveis de pobreza e insegurança alimentar crónica também têm tornado as famílias pobres e muito pobres mais vulneráveis à insegurança alimentar aguda face aos choques. Por exemplo, a desnutrição crônica em crianças com menos de cinco anos de idade permanece na ordem de 37 por cento, enquanto a fraca diversidade alimentar, cuidados de saúde inadequados e os frequentes surtos de doenças têm contribuído ainda mais para a deterioração do seu estado nutricional.
A agricultura – dominada por sistemas agrícolas de sequeiro – é o principal sector económico em Moçambique, com mais de 70 por cento da população dependente deste sector para subsistência. Geralmente, os pequenos agricultores utilizam factores de produção e tecnologias limitados, resultando em baixos níveis de produtividade das suas culturas, e são muito propensos a fenómenos meteorológicos extremos. Por outro lado, os agricultores normalmente sofrem elevadas perdas pós-colheita, em média cerca de 30 por cento da produção, devido a infraestruturas de conservação inadequadas.
Normalmente, a produção agrícola é a principal fonte de alimentos e renda para as famílias rurais pobres e muito pobres. A época de colheita principal em Moçambique começa normalmente por volta de Abril e termina por volta de Junho (Figura 2). A segunda época (principalmente o cultivo de hortícolas) é mais praticada nas zonas baixas das regiões centro e sul, aproveitando-se a humidade residual da principal estação chuvosa. A sementeira de culturas da segunda época começa por volta de Abril, com a colheita de hortícolas esperada 60 dias mais tarde e outras culturas são normalmente colhidas de Agosto a Outubro. As actividades agrícolas geradoras de renda incluem a preparação da terra e sementeira de Outubro a Dezembro, bem como a sacha em Fevereiro e Março durante a época principal. No entanto, este período representa o pico típico da época de escassez no país (Figura 2), que coincide com a estação chuvosa, caracterizada pelo esgotamento das reservas de alimentos das famílias e pelo aumento sazonal dos preços dos alimentos. As taxas de desnutrição aguda também aumentam sazonalmente durante esta altura do ano.
A província de Cabo Delgado, no norte do país, tem sido palco de conflito desde 2017, assolada por uma insurgência liderada por grupos militantes islâmicos, geralmente referidos como Al-Shabaab. No auge do conflito, em 2021 e 2022, mais de 1 milhão de pessoas foram deslocadas e forçadas a fugir das suas casas, infraestruturas foram destruídas e as economias locais rompidas. As actividades agrícolas foram severamente afectadas, com a produção agrícola significativamente reduzida devido à diminuição da terra cultivada. Actualmente, muitos agricultores continuam sem acesso às terras agrícolas, mercados e ao emprego, o que tem reduzido significativamente a sua capacidade de produzir alimentos suficientes e de obter níveis de renda adequados. Esta redução na disponibilidade e fornecimento de alimentos é ainda exacerbada pela destruição de infraestruturas, como estradas e mercados, o que dificulta o transporte e distribuição de alimentos. Como resultado, a maioria das pessoas nesta região depende da assistência alimentar humanitária.
Acesse ao conjunto completo de calendários Sazonais para Moçambique aqui.
Saiba mais
Siga estes links para mais informação:
- Anterior Perspectiva de Segurança Alimentar em Moçambique: Junho 2024 a Janeiro 2025
- Recente Destaques de Moçambique: Setembro 2024
- Visão geral da metodologia de desenvolvimento de cenários da FEWS NET
- Abordagem da FEWS NET de estimativa da população necessitada
- Visão geral da Análise de IPC - Compatível
- Abordagem da FEWS NET da análise da assistência alimentar humanitária
O aviso prévio contra a insegurança alimentar aguda exige uma previsão da situação com meses de antecedência, para que os tomadores de decisão tenham tempo suficiente para orçamentar, planificar e responder às crises humanitárias que se esperam. Contudo, devido aos factores complexos e variáveis que influenciam a insegurança alimentar aguda, previsões definitivas são impossíveis. O Desenvolvimento de Cenários é a metodologia que permite à FEWS NET satisfazer as necessidades dos tomadores de decisão, desenvolvendo um cenário “mais provável” do futuro. O ponto de partida para o desenvolvimento de cenários é uma análise robusta das actuais condições de segurança alimentar, que é o foco desta secção. Os principais princípios orientadores para o processo de desenvolvimento de cenários da FEWS NET incluem a aplicação do quadro de Redução do Risco de Desastres e uma perspectiva baseada em formas de vida para avaliar os resultados da insegurança alimentar aguda. O risco de uma família sofrer de insegurança alimentar aguda é uma função não somente de riscos (como seca), mas também da vulnerabilidade da família a esses riscos (ex: o nível de dependência da família da produção agrícola de sequeiro para a produção de alimentos e renda) e da capacidade de resposta (que considera tanto a capacidade da família de lidar com um determinado risco como a utilização de estratégias de sobrevivência negativas que prejudicam a capacidade de sobrevivência no futuro). Para avaliar estes factores, a FEWS NET baseia esta análise numa forte compreensão fundamental das formas de vida locais, que são os meios pelos quais uma família satisfaz as suas necessidades básicas. O processo de desenvolvimento de cenários da FEWS NET também tem em conta o Quadro de Formas de Vida Sustentáveis; as Quatro Dimensões de Segurança Alimentar; e o Quadro Conceptual da Nutrição da UNICEF, e está estreitamente alinhado com o quadro analítico da Classificação das Fases de Insegurança Alimentar (IPC).
Principais riscos
Condições meteorológicas:
Seca induzida pelo El Niño: A época chuvosa e agrícola de 2023/24 foi significativamente afectada por uma seca induzida pelo fenómeno El Niño em grande parte do país (Figura 3). A zona centro do país foi mais afectada em comparação com a zona sul. A seca do El Niño de 2023/2024 também foi considerada mais severa na zona centro do que a seca do El Niño de 2015/2016, com base numa análise comparativa utilizando o Índice de Satisfação das Necessidades Hídricas (WRSI). O WRSI no final da época agrícola de 2024 foi, em média, 12 por cento inferior na zona centro relativamente a 2016. Isto tornou a zona semiárida central uma grande área de preocupação devido às condições agrometeorológicas adversas na época 2023/2024. Por outro lado, a zona sul registou fortes chuvas em Março associadas à tempestade tropical Filipo, que trouxeram há muito almejada humidade que mitigou os efeitos da seca induzida pelo El Niño. Isto resultou em impactos menos severos do El Niño na zona sul em comparação com 2015/2016.
Fonte: USGS/FEWS NET
Tempestade Tropical Filipo: A Tempestade Tropical Severa Filipo atingiu Moçambique em meados de Março de 2024, trazendo ventos máximos de 90 km/h, rajadas superiores a 120 km/h e chuvas fortes de 150 mm em 24 horas. O fenómento afectou principalmente as províncias de Sofala, Inhambane, Gaza e Maputo. Dez dias depois, ocorreram inundações na zona sul, particularmente em Maputo, devido às chuvas torrenciais. Quase 200 mil pessoas foram negativamente afectadas e mais de 30 mil hectares de diversas culturas foram afectados, com cerca de 20 por cento das culturas destruídas.
Conflicto:
Após uma série de ataques na província de Cabo Delgado no início deste ano, a presença de forças governamentais e crescente presença de forças ruandesas e locais ajudaram a manter uma relativa estabilidade na zona nos meses seguintes. No entanto, pequenos grupos dispersos de insurgentes continuam a operar em vários locais de Cabo Delgado, incluindo Chiúre, Metuge, Quissanga, Ancuabe, Mocímboa da Praia, Macomia e Mecufi, levando à tensão contínua e ao medo de novos ataques. De acordo com a avaliação da Matriz de Rastreamento de Deslocados da OIM (IOM/DTM) , mais de 610 mil retornados e mais de 577.500 deslocados internos foram identificados em Cabo Delgado, Nampula e Niassa, no Norte de Moçambique, entre Maio e Junho de 2024. A província de Cabo Delgado é onde vive 94 por cento da população total de deslocados internos, seguida por Nampula e Niassa, principalmente devido ao conflito contínuo. Apesar da diminuição no número de deslocados internos em comparação com a avaliação anterior da IOM/DTM em Janeiro de 2024, foram registados novos deslocamentos devido a ataques esporádicos no Norte de Moçambique.
Falta de sementes:
Escassez de sementes para a época agrícola 2024/2025: Na época agrícola 2023/2024, a seca causada pelo El Niño levou a perdas significativas de culturas e renda abaixo da média para muitas famílias pobres e muito pobres. Como resultado, estas famílias não têm poder de compra para adquirir sementes. Por outro lado, devido à fraca produção em 2024, muitas destas famílias não terão acesso às suas próprias sementes.
Produção agrícola:
A seca induzida pelo El Niño teve um impacto significativo na produção agrícola fortemente dependente de chuvas em Moçambique. Isto resultou numa redução de de cerca de 25 a 35 por cento da produção nacional de milho, o principal cereal cultivado e consumido em Moçambique. As zonas semiáridas da zona centro foram particularmente afectadas. As zonas produtivas de Moçambique, que normalmente não são propensas aos efeitos de El Niño, foram igualmente afectadas pela seca. Contudo, na parte norte do país, incluindo as províncias de Nampula, Niassa e partes de Cabo Delgado (que não foram directamente afectadas pelo conflito), a produção agrícola foi boa na época 2023/2024.
A segunda época decorre de Abril até ao início da época chuvosa seguinte e centra-se principalmente na produção de hortícolas. A segunda época é principalmente praticada em zonas baixas com humidade residual suficiente ou com acesso a fontes de água para irrigação. Em 2024, a produção de hortícolas na zona sul esteve próxima da média, como resultado de uma boa disponibilidade da humidade residual e aos níveis dos rios próximos da média. Contudo, na zona centro, a humidade residual esteve abaixo da média, resultando em níveis de produção abaixo da média na segunda época. Apesar dos níveis de produção variáveis, a produção de hortícolas desempenhou um papel fundamental na redução de défices no consumo de alimentos e constituiu uma fonte de renda em partes onde foi possível.
Produção pecuária:
Durante o período seco, de Maio a Setembro, não houve relatos alarmantes de mortes do gado devido à falta de pasto ou água, contrariamente ao El Niño de 2015/2016, especialmente na zona sul. Desta vez, a zona sul, com enorme potencial para a criação de gado, registou poucas ou nenhumas mortes de animais ou grandes movimentos de gado em busca de água e pasto. Nas zonas semiáridas da região centro, o gado caprino, que é o mais abundante naquelas zonas, apresenta boas condições físicas, pois é mais tolerante às condições de seca. No entanto, o gado bovino apresenta alguma deterioração física devido à disponibilidade reduzida do pasto e água. Na região norte, a produção pecuária continuou normalmente, excepto nas zonas afectadas pelo conflito, onde a produção pecuária foi severamente afectada.
Alimentos Silvestres:
Na zona sul, os alimentos silvestres estão mais disponíveis em comparação com a zona centro, mas a sua disponibilidade continua abaixo da média em ambas as regiões. Algumas famílias pobres e muito pobres no sul têm acesso a alimentos silvestres tais como macuacua, xicutsi (uma raiz usada para fazer chá tradicional durante os anos difíceis), tissundo, massala e mapfilo. Na zona centro, onde os efeitos da seca são mais severos, mais famílias têm procurado alimentos silvestres tais como o malambe (fruto do embondeiro), mahimbe, massanica e Nhica. Embora a procura seja elevada, a disponibilidade destes alimentos silvestres é baixa, tornando cada vez mais difícil encontrá-los, sendo geralmente necessárias longas caminhadas para os localizar.
Fontes de renda para além da produção agrícola:
- Trabalho agrícola e salários: Durante a estação seca, de Maio até pouco antes do início da estação chuvosa em Novembro, o trabalho agrícola e os salários são normalmente mínimos porque a maioria das actividades durante este período centram-se no trabalho não agrícola. A única excepção é a produção da segunda época (produção de hortícolas), que é praticada em áreas adequadas e normalmente envolve um pequeno número de famílias. Este ano, as oportunidades de trabalho agrícola e os salários relacionados com a produção da segunda época estiveram próximos da média na zona sul e abaixo da média na zona centro. No norte, o trabalho agrícola e os salários estiveram próximos da média na maior parte da região, excepto nas zonas afectadas pelo conflito em Cabo Delgado, onde os níveis estiveram abaixo da média.
- Venda de carvão e lenha: O corte de árvores para a produção de carvão continua a ser a principal fonte de renda para muitas comunidades afectadas por desastres climáticos, especialmente a seca. Desde Maio, esta actividade intensificou-se, levando ao aumento da concorrência e renda abaixo da média. Apenas as famílias próximas dos principais corredores conseguem vender o seu carvão a preços razoáveis. Para quem vive em zonas remotas, vender a preços baixos ou transportar carvão para locais mais favoráveis não é rentável.
- Minas artesanais: Em muitas zonas rurais e não só, muitos jovens recorrem à mineração artesanal como alternativa para mitigar os impactos dos choques climáticos ou da falta de emprego. As estatísticas oficiais indicam que existem milhares de minas artesanais espalhadas por todo o país, com maior concentração nas zonas centro e norte. A mineração artesanal tem sido uma prática de longa data em Moçambique, sendo os principais minerais valiosos extraídos o ouro e as pedras preciosas e semipreciosas. Nos últimos anos, os tipos de minerais extraídos expandiram-se e incluem pedra de construção, calcário, areia, argila, tantalite e carvão mineral. Apesar de muitas actividades mineiras serem ilegais e que envolvem um certo risco, a mineração proporciona renda a muitas famílias nas zonas rurais e serve como alternativa à agricultura, que é cada vez mais afectada por choques relacionados com o clima devido às alterações climáticas.
- Pequenos negócios: Os pequenos negócios são uma actividade comum nas comunidades rurais, excepto em zonas afectadas pelo conflito, onde a insegurança torna esta actividade difícil. Esta actividade, bem como outras actividadades não agrícolas, está a atrair mais participantes, mas a renda obtida é relativamente baixa, especialmente em anos maus como o actual, em que o poder de compra é reduzido. Além da compra e revenda de produtos diversos, os pequenos negócios também incluem a produção e venda de bebidas tradicionais, comum em diversas comunidades. No entanto, a baixa produção de cereais teve impacto na produção local de bebidas e causou uma queda na renda. Algumas famílias obtêm renda através do artesanato, mas a procura é baixa durante os anos de seca, uma vez que muitas famílias dão prioridade à alimentação em detrimento de outras necessidades não alimentares.
- Outras fontes de renda: O corte e venda de capim/palha, caniço e estacas para construção de casas (Figura 4) está actualmente abaixo da média devido à baixa procura como resultado de rendas abaixo da média. Muitas famílias estão a dar prioridade à procura de alimentos, o que está a reduzir a procura destes materiais e a levar a preços mais baixos. Da mesma forma, a produção e venda de tijolos de barro também é afectada pelo reduzido poder de compra dos potenciais compradores, especialmente nas zonas urbanas e periurbanas onde os tijolos são normalmente procurados.
Abastecimento dos mercados:
A oferta actual de alimentos básicos, como o milho, está abaixo da média, o que leva a preços mais elevados em comparação com o ano passado e com a média de cinco anos. Por exemplo, no mercado de Maputo, os preços do milho são actualmente 13 por cento superiores aos preços do ano passado e 33 por cento acima da média de cinco anos. Contudo, de Junho a Setembro, a oferta de hortícolas na zona sul manteve-se relativamente estável, com preços próximos da média devido às condições de produção favoráveis durante a segunda época. Contrariamente, a zona centro registou uma oferta de hortícolas abaixo da média e preços acima da média. No entanto, os mercados estão bem abastecidos com outros produtos, como feijão, tubérculos e produtos processados. As diferenças de preços estão a influenciar o movimento de produtos das zonas excedentárias para as zonas deficitárias, com os comerciantes formais e informais a tirarem proveito dessas oportunidades.
Poder de compra das famílias:
No ano de consumo 2024/25, muitas famílias pobres e muito pobres nas zonas afectadas por choques continuam a enfrentar dificuldades em comprar alimentos suficientes devido à renda limitada e aos preços dos alimentos básicos acima da média. Os preços do milho nos mercados do sul e centro permaneceram estáveis, mas são superiores aos preços do ano passado e à média de cinco anos. Por exemplo, em Maputo, o preço do milho é actualmente 13 por cento superior ao preço do ano passado e 33 por cento superior à média de cinco anos. Em Mutarara, na província de Tete, o preço do milho é 32 por cento superior ao preço do ano passado e 60 por cento superior à média de cinco anos. Isto afectou particularmente as famílias na zona semiárida da região centro, onde as famílias afectadas pela seca, com colheitas baixas e renda limitada, enfrentam um poder de compra limitado devido aos elevados preços do mercado. Na região norte, os preços diminuíram na época da colheita, como é típico, e permanecem relativamente mais favoráveis em comparação com as zonas centro e sul. No mercado de Montepuez, em Cabo Delgado, o preço do milho permaneceu estável de Junho a Agosto, mas esteve 17 por cento acima do nível do ano passado e 10 por cento acima da média de cinco anos em Agosto. As famílias deslocadas pelo conflito em Cabo Delgado enfrentam dificuldades de acesso e compra de alimentos, sendo que a maioria depende da assistência alimentar humanitária.
A assistência alimentar humanitária – definida como assistência alimentar de emergência (em espécie, dinheiro ou senhas) – pode desempenhar um papel fundamental na mitigação da gravidade da insegurança alimentar aguda. Os analistas da FEWS NET incorporam sempre a informação disponível sobre a assistência alimentar, com a ressalva de que a informação sobre a assistência alimentar é altamente geo e temporalmente variável. Em consonância com os protocolos do IPC, a FEWS NET utiliza a melhor informação disponível para avaliar onde a assistência alimentar é “significativa” (definida por pelo menos 25 por cento das famílias numa determinada área que recebem pelo menos 25 por cento das suas necessidades caloríficas através da assistência alimentar); vide o anexo do relatório. Além disso, a FEWS NET realiza análises mais aprofundadas dos prováveis impactos da assistência alimentar na gravidade da insegurança alimentar aguda, conforme detalhado na orientação da FEWS NET sobre a Integração da Assistência Alimentar Humanitária no Desenvolvimento de Cenários . Outros tipos de assistência (ex: formas de vida ou assistência nutricional; programas de redes de segurança social) são incorporados noutros pontos da análise mais ampla da FEWS NET, conforme aplicável.
Em Setembro de 2024, os parceiros do Grupo de Segurança Alimentar (FSC) prestaram assistência alimentar geral equivalente a aproximadamente 40 por cento das necessidades caloríficas mensais a cerca de 276 mil pessoas nas províncias de Cabo Delgado e Nampula. Esta assistência cobriu mais de 30 por cento da população alvo do Plano de Resposta Humanitária (HRP) de 2024. A assistência inclui apoio em espécie (cerca de 60 por cento) e dinheiro/senhas (cerca de 40 por cento). No distrito de Macomia, a assistência alimentar humanitária foi retomada em Outubro, depois de ter sido suspensa desde Maio de 2024 devido a questões de segurança.
Com base na análise das condições de segurança alimentar, a FEWS NET avalia até que ponto as famílias conseguem satisfazer as suas necessidades caloríficas mínimas. Esta análise converge as evidências das condições de segurança alimentar com as evidências directas disponíveis do consumo alimentar a nível familiar e das mudanças nas formas de vida; A FEWS NET também considera as evidências disponíveis ao nível da área sobre o estado nutricional e mortalidade, com foco na avaliação se estas reflectem os impactos fisiológicos da insegurança alimentar aguda e não de outros factores não relacionados com a alimentação. Em última análise, a FEWS NET utiliza a escala de Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC) , mundialmente reconhecida, para classificar os actuais resultados de insegurança alimentar aguda. Além disso, a FEWS NET aplica o símbolo “!” para indicar zonas que provavelmente estariam pelo menos numa fase pior na ausência de assistência alimentar humanitária em curso.
Zonas Sul e Centro:
Desde Maio de 2024, o acesso das famílias pobres e muito pobres aos alimentos e à renda tem sido afectado pelo impacto dos choques climáticos vividos durante a época 2023/2024, particularmente a seca causada pelo El Niño. A maioria das famílias pobres e muito pobres não têm reservas alimentares ou já os que tinham já esgotaram. Desde então, a insegurança alimentar aguda tem se agravado à medida que mais famílias ficam sem reservas alimentares, incluindo algumas famílias de renda média. Nestas situações, as famílias afectadas recorrem geralmente à venda de animais para a compra de alimentos nos mercados locais. No entanto, a venda de animais tais como galinhas, patos e outros pequenos animais não gera renda suficiente devido ao número limitado de animais possuídos. Por outro lado, as famílias muito pobres não possuem animais para venda e têm poucas opções para gerar renda. Ao mesmo tempo, os elevados preços dos alimentos básicos, como o milho, que estão em média 33 por cento e 60 por cento acima da média de cinco anos no sul e no centro, respectivamente, estão a reduzir o poder de compra, limitando o acesso aos alimentos vendidos nos mercados locais.
As famílias pobres e muito pobres nas zonas semiáridas do sul e centro do país enfrentam desafios na geração de renda suficiente, principalmente devido à fraca produção e às oportunidades de emprego limitadas, especialmente em zonas distantes das grandes cidades e centros urbanos. Como resultado, estas famílias enfrentam défices no consumo de alimentos e necessitam de assistência alimentar humanitária. Estas famílias têm recorrido a estratégias de sobrevivência indicativas de Crise (IPC Fase 3), tais como reduzir o número ou o tamanho das refeições, dar prioridade ao consumo de alimentos pelas crianças em detrimento dos adultos, retirar as crianças da escola, procurar ajuda de familiares, enviar as crianças para outras famílias, e aumentar o consumo de alimentos silvestres. Mesmo depois de adoptarem estas estratégias de sobrevivência, as famílias muito pobres e pobres continuam a enfrentar dificuldades para obterem quantidades suficientes de alimentos. Como resultado, algumas famílias são forçadas a tomar medidas extremas, tais como mudar-se temporariamente para outras zonas em busca de melhores condições de sobrevivência. Esta migração pode envolver a procura de locais com mineração de pequena escala, muitos dos quais são ilegais e inseguros. Embora seja contra a lei na maioria dos casos, alguns membros de famílias pobres e muito pobres caçam para alimentação ou venda da caça. Outros viajam longas distâncias para zonas remotas com condições favoráveis à actividade pesqueira.
A situação de Crise (IPC Fase 3) regista-se nas zonas semiáridas do sul e centro, onde as famílias pobres e muito pobres com défices no consumo de alimentos necessitam de assistência alimentar humanitária urgente. A assistência alimentar humanitária evitaria a deterioração do seu estado nutricional e evitaria piores resultados de insegurança alimentar e adopção de estratégias de sobrevivência negativas que afectam as formas de vida e comprometem as condições de vida futuras.
Zonas de conflito em Cabo Delgado e Nampula:
A situação em Cabo Delgado está relativamente estável devido à ofensiva desencadeada pelas forças governamentais com a assistência do contingente ruandês e das forças locais. No entanto, os grupos armados não estatais continuam a movimentar-se e continuam a ocorrer ataques esporádicos de pequena escala, como o recente ataque ocorrido em Mocímboa da Praia, o que tem mantido o clima de tensão e medo. Esta situação tem impedido as pessoas de retomarem plenamente às suas formas de vida normais, incluindo o funcionamento normal dos mercados e do comércio em geral. Como resultado, os deslocados internos e os retornados mais vulneráveis continuam a depender da assistência alimentar humanitária.
A ocorrência de ataques esporádicos tem minado todos os esforços destinados a recuperação das formas de vida básicas, criando cada vez mais a dependência da assistência alimentar humanitária. Como resultado, tem constantemente surgido novas vagas de deslocadas internos e retornados, colocando desafios significativos aos esforços humanitários. As oportunidades limitadas de geração de renda e a diminuição do poder de compra intensificaram a concorrência pelos escassos recursos. Para a maioria dos deslocados internos e retornados, a principal fonte de alimentos continua a ser a assistência alimentar humanitária. O aumento da insegurança e os recursos de resposta limitados têm levado uma persistente Crise (IPC Fase 3), enquanto a insegurança alimentar aguda de “Estresse! (IPC Fase 2!) regista-se em zonas que recebem assistência alimentar humanitária regular. Nas zonas relativamente mais seguras, regista-se a situação de “Estresse” (IPC Fase 2), uma vez que a maioria das famílias pobres e muito pobres têm acesso às necessidades alimentares mínimas, mas enfrenta dificuldades em satisfazer as despesas não alimentares devido à necessidade de partilhar os seus recursos limitados com os membros das suas famílias deslocadas. No entanto, nas zonas não afectadas pelo conflito de Cabo Delgado, as condições agroclimáticas favoráveis durante a época 2023/24 levaram a um aumento da produção agrícola, resultando na melhoria da segurança alimentar para a maioria das famílias.
Em Nampula, os distritos de Erati e Memba actualmente enfrentam Crise (IPC Fase 3), embora haja uma tendência de melhoria, uma vez que muitos deslocados estão a regressar às suas zonas de origem. Esta deslocação seguiu-se ao incidente de Abril no distrito de Erati causado por grupos armados não estatais de Cabo Delgado.
A análise da FEWS NET baseia-se em eventos ocorridos até 25 de Outubro de 2024 e destaca a recente agitação em Moçambique após alegações de fraude eleitoral nas eleições de 9 de Outubro. Desde 21 de Outubro, eclodiram manifestações e confrontos violentos em várias partes do país. O anúncio oficial dos resultados das eleições no dia 24 de Outubro, declarando o candidato do partido no poder como vencedor, provocou apelos para uma greve geral adicional de uma semana a partir de 31 de Outubro. Relatos indicam que a agitação levou ao encerramento de serviços essenciais, incluindo lojas, pequenos negócios, mercados e transportes públicos, rompendo o acesso aos alimentos e renda, especialmente para as famílias de baixa renda dentro e ao redor dos grandes centros urbanos. Com base no grau dos impactos actuais e previstos, a FEWS NET não espera uma mudança significativa na gravidade da insegurança alimentar aguda mapeada. A FEWS NET continuará a monitorar a situação e a fornecer actualizações oportunas sobre os resultados projectados caso for necessário.
Actual situação nutricional a nível nacional:
Embora muitas famílias de baixa renda em zonas severamente afectadas por choques possam estar a enfrentar um défice calórico devido ao consumo inadequado de alimentos, os níveis actuais da desnutrição aguda variam entre Aceitável (Fase 1) com GAM inferior a 5 por cento e Alerta (Fase 2) com GAM entre 5 e 9,9 por cento para a maioria das famílias. Contudo, em alguns distritos com desnutrição crónica tipicamente elevada, como Morrumbala e Eráti, a desnutrição aguda é classificada como Grave (IPC Fase 3) com GAM entre 10 e 14,9 por cento.
O próximo passo no processo de desenvolvimento de cenários da FEWS NET é desenvolver pressupostos baseados em evidências sobre factores que afectam as condições de segurança alimentar. Isto inclui riscos e anomalias nas condições de segurança alimentar que afectarão a evolução de alimentos e renda das famílias durante o período da projecção, bem como factores que podem afectar o estado nutricional. A FEWS NET também desenvolve pressupostos sobre factores que se espera que se comportem normalmente. Em conjunto, estes pressupostos sustentam o cenário “mais provável”. A sequência de desenvolver pressupostos é importante; os pressupostos primários (ex:, expectativas relativas às condições meteorológicas) devem ser desenvolvidos antes dos pressupostos secundários (ex:, expectativas relativas à produção agrícola ou pecuária). Os principais pressupostos que sustentam esta análise e as principais fontes de evidência utilizadas para desenvolver os pressupostos estão listados abaixo.
Pressupostos nacionais:
- O fenómeno La Niña poderá emergir entre Setembro e Novembro (60 por cento de probabilidade) e poderá persistir até Janeiro e Março de 2025. A estação chuvosa de 2024/25, de Outubro a Dezembro de 2024, poderá iniciar oportunamente, com uma precipitação média em todo Moçambique. A precipitação acumulada poderá ser normal a acima do normal nas zonas centro e sul, mas normal a abaixo do normal na zona norte durante a estação chuvosa de 2024/25.
- Os níveis de humidade do solo poderão melhorar gradualmente de Outubro a Dezembro de 2024. No entanto, a humidade do solo abaixo da média poderá afectar as culturas semeadas primeiro em Outubro e Novembro, especialmente na região norte, onde se prevê uma precipitação normal a abaixo do normal.
- Os níveis das barragens e o abastecimento de água nas zonas sul e centro deverão estar próximos da média devido à recarga esperada de chuvas normais para acima do normal durante a estação chuvosa de 2024/25. Contudo, no norte, a prevista precipitação normal a abaixo do normal poderá levar a níveis de água abaixo da média.
- Temperaturas acima da média são mais prováveis em Moçambique até Março de 2025. Temperaturas extremamente elevadas podem causar o estresse térmico, o que perturba o crescimento normal das culturas. Por outro lado, o calor excessivo durante o período de floração pode reduzir a produção do fruto e sementes, resultando em colheitas inferiores. Por fim, as temperaturas mais elevadas criam condições favoráveis para a proliferação de pragas e doenças que podem prejudicar as culturas.
- As condições de La Niña podem aumentar a probabilidade de os ciclones, ventos fortes e cheias afectarem Moçambique, especialmente de Janeiro a Março de 2025. De Outubro a Dezembro de 2024, há um risco moderado de cheias nas bacias de Maputo, Umbeluzi, Incomati, Inhanombe, Bacias da Mutamba, Save, Savane e Licungo. De Janeiro a Março de 2025, prevê-se um risco moderado a elevado de cheias nas bacias de Maputo, Umbeluzi, Incomati, Save, Buzi, Pungue, Zambeze e Licungo. Por outro lado, existe um elevado risco de cheias nas zonas urbanas dos municípios de Boane, Maputo, Matola, Marracuene, Xai-Xai, Beira e Quelimane.
- O MADER prevê uma época agrícola média a acima da média em todo o país, uma vez que se espera que a próxima estação chuvosa de 2024/25 proporcione níveis de água favoráveis para o desenvolvimento das culturas. O MADER enfatiza a importância de uma monitoria contínua e alertas de potenciais inundações em zonas baixas.
- A disponibilidade de insumos a nível das famílias para a época 2024/25 está abaixo da média, especialmente para as famílias muito pobres e pobres. Devido a múltiplas tentativas de sementeira mal sucedidas na época 2023/24, as famílias pobres e muito pobres consumiram a maior parte das suas sementes. Com um poder de compra abaixo da média, estas famílias poderão enfrentar desafios na obtenção de sementes para a próxima época principal de 2024/25. Se não existirem programas de distribuição de sementes, as famílias muito pobres terão dificuldade de acesso às sementes devido à disponibilidade limitada a nível familiar, agravada pelo poder de compra abaixo da média, levando a uma diminuição da área total semeada. Por outro lado, as sementes retidas, para quem consegue retê-las, normalmente são de má qualidade e menos resistentes a pragas e doenças.
- A maioria das famílias agrícolas terá reservas de alimentos abaixo da média até à próxima colheita principal em Abril de 2025. Espera-se um aumento gradual na disponibilidade de alimentos da colheita principal da época 2024/25 a partir de Abril de 2025. Tal como foi relatado anteriormente pela FEWS NET, a colheita de milho para a época agrícola 2023/24 esteve abaixo da média de cinco anos, principalmente devido aos efeitos da seca induzida pelo El Niño.
- De Outubro de 2024 a Março de 2025, o comércio transfronteiriço informal de milho entre o Malawi e Moçambique deverá permanecer abaixo da média devido à produção abaixo da média deste cereal em ambos os lados da fronteira durante a época 2023/24. Há uma crescente procura de produtos processados em Moçambique por parte dos comerciantes do Zimbabwe. Entretanto, Moçambique continuará a importar milho da África do Sul e dos mercados globais.
- O milho poderá continuar a fluir das zonas de alta produção para as zonas afectadas pela seca nas regiões sul e centro devido aos preços atractivos e à necessidade de se colmatar a escassez nos mercados locais. No entanto, a disponibilidade geral do milho permanecerá abaixo da média a nível nacional até Abril de 2025, altura em que se espera a próxima colheita principal.
- Como acontece todos os anos, os campos agrícolas poderão estar ameaçados por infestações de pragas. A magnitude das infestações dependerá em grande medida da capacidade actual de controlo de pragas. As principais pragas que suscitam preocupação na época agrícola 2024/25 são a lagarta do funil do milho (LFM), roedores, gafanhotos, brocas de milho e larvas. Nos últimos anos, a LFM tem sido uma grande ameaça ao milho e outras culturas na zona. Estima-se que as perdas da produção resultantes dos ataques de pragas e doenças poderá atingir 40 por cento caso não tomadas medidas de controlo em tempo útil.
- Entre Outubro e Dezembro de 2024, o início da estação chuvosa de 2024/25 proporcionará oportunidades de trabalho agrícola próximas da média para as famílias pobres e muito pobres, incluindo a preparação da terra, sementeira e sacha. A sacha poderá continuar até Março de 2025, altura em que começa a colheita verde na maior parte do país. A partir de Abril de 2025, o foco principal do trabalho agrícola passará para a colheita.
- Os salários do trabalho agrícola poderão permanecer abaixo da média até pouco antes da colheita principal devido aos efeitos negativos da seca induzida pelo El Niño em 2024, que tornou difícil para as famílias médias e ricas obterem rendas adequadas. No entanto, com o início da colheita em Abril, espera-se que os salários do trabalho agrícola comecem a melhorar e provavelmente atinjam o nível médio, especialmente os salários em espécie.
- De acordo com a projecção integrada de preços da FEWS NET (Figura 5), os preços do milho deverão permanecer acima da média de cinco anos e dos níveis do ano passado durante todo o período do cenário. Os preços do milho permanecerão atipicamente elevados devido à disponibilidade abaixo da média do milho na campanha de comercialização de 2024/25. Nos últimos cinco anos, os choques recorrentes, incluindo a seca induzida pelo El Niño de 2023/2024, mantiveram os preços altos. O preço actual do milho no mercado de Maputo é de 34,00 MT o quilograma, aproximadamente 40 por cento superior à média de cinco anos e 20 por cento superior ao preço do ano passado. Estes preços mais elevados, aliados ao baixo poder de compra, poderão afectar o acesso aos alimentos, especialmente para as famílias pobres e muito pobres.
- Os preços dos animais poderão permanecer ligeiramente abaixo da média durante a maior parte do período do cenário. Isto porque muitos proprietários são tentados a vender os seus animais para geração de renda como resultado de fraca produção da época 2023/24. É importante notar que a maioria das famílias muito pobres possui galinhas, algumas também possuem cabritos (normalmente dois a cinco) e um número ainda menor possui porcos.
- Com o objectivo de apoiar as famílias durante a época agrícola 2024/2025 em Cabo Delgado, os parceiros do FSC (ACF, CARE International, FAO, Solidarités International (SI), UPCCD, PNUD e PMA) planeiam prestar assistência a cerca de 268.850 beneficiários com insumos agrícolas e intervenções nas formas de vida.
- Embora o consumo de alimentos nutritivos por muitas famílias de baixa renda nestas zonas tenha diminuído gradualmente, os níveis da desnutrição aguda permanecerão entre Aceitável (Fase 1) com GAM menor que 5 por cento e Alerta (Fase 2) com GAM entre 5–9,9 por cento de Junho a Setembro de 2024. No entanto, entre Outubro de 2024 e Janeiro de 2025, a baixa oferta de alimentos e o consumo excessivo de alimentos silvestres com baixo nível de calorias poderão agravar ainda mais o nível da desnutrição aguda em comparação com o período anterior.
Pressupostos subnacionais para as zonas afectadas pela seca induzida pelo El Niño (zonas semiáridas do sul e centro):
- Entre Outubro de 2024 e Março de 2025, as famílias nas regiões sul e centro afectadas pela seca do El Niño poderão depender fortemente do auto emprego para ganhar dinheiro para a compra de alimentos. As actividades de auto emprego incluirão principalmente a produção e venda de carvão vegetal, bebidas e colecta e venda de produtos florestais. No entanto, devido à elevada concorrência, não são esperados lucros significativos. Ao longo dos anos, muitos jovens têm-se deslocado a vários locais de mineração existentes para participar na mineração artesanal, e esta tendência poderá continuar. Contudo, as famílias agrícolas poderão equilibrar a geração de renda para a compra de alimentos nos mercados locais com as actividades agrícolas, tendo em consideração a necessidade de maximizar as condições agroclimáticas favoráveis esperadas.
Pressupostos subnacionais para zonas afectadas pelo conflitos/Cabo Delgado:
- Poderão ocorrer ataques esporádicos perpetrados pelos grupos armados não estatais durante o período do cenário, cujas acções estão centradas principalmente em Cabo Delgado. Pequenos grupos insurgentes poderão desencadear ataques intermitentes a aldeias no centro, litoral e norte de Cabo Delgado. As forças armadas de Moçambique e do Ruanda, com a ajuda das forças locais, deverão continuar as suas operações anti-insurgência conjuntas. Em certas zonas, a presença de deslocados internos e de retornados poderá colocar desafios a curto e médio prazo relacionados com o trabalho, recursos agrícolas e insegurança alimentar. Poderão ocorrer interrupções temporárias nos processos de assistência alimentar humanitária devido a preocupações de segurança.
Assistência alimentar humanitária:
Pressuposto subnacional para zonas de seca induzida pelo El Niño
- Até Outubro de 2024, os recursos disponíveis asseguram a assistência alimentar humanitária durante a época de escassez, de Novembro de 2024 a Março de 2025, para cerca de 350 mil pessoas afectadas pela seca induzida pelo El Niño. Além disso, cerca de 165 mil pessoas (algumas das quais também receberão assistência alimentar) receberão insumos agrícolas. A meta estimada para assistência à segurança alimentar e formas de vida da população afectada pelo El Niño é de 1,1 milhões de pessoas, pelo que a assistência confirmada cobrirá cerca de 40 por cento da meta. Estes números baseiam-se na assistência do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD), bem como nos planos de assistência confirmados pelo PMA, FAO, Care, IFRC, Visão Mundial Internacional, Fundação Tzu Chi e Plan International, que estão envolvidos neste esforço humanitário.
Pressuposto subnacional para as zonas afectadas pelo conflito
- De Novembro de 2024 a Abril de 2025, o PMA planeia prestar assistência a mais de 497 mil pessoas nos distritos de Macomia, Quissanga, Mocímboa da Praia, Muidumbe e Nangade. Oitenta e seis por cento da assistência será prestada em espécie, enquanto os restantes 14 por cento através de transferências em dinheiro. Esta assistência cobrirá aproximadamente 40 por cento das necessidades caloríficas diárias das famílias.
- Em Outubro e Novembro, a Oxfam e a Caritas prestarão assistência a mais de 4.800 pessoas com distribuição geral de alimentos em Montepuez e Mecúfi. Especificamente, 2.880 pessoas em Montepuez receberão assistência através de senhas, enquanto 1.985 pessoas em Mecúfi receberão apoio em espécie. O volume de assistência alimentar fornecida será equivalente a 78 por cento da ingestão diária recomendada de 2.100 Kcal.
| Principais fontes de evidência: | ||
|---|---|---|
| Previsões meteorológicas e de cheias produzidas pelo Centro de Previsão Climática da NOAA, USGS, Centro de Riscos Climáticos da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e NASA | Análises e previsões de conflitos produzidas pela ACLED, Control Risks Seerist, Signal Room, ACAPS | Avaliação rápida de campo realizada pela FEWS NET nas zonas semiáridas do sul (Maio de 2024) e centro (Janeiro de 2024) |
| Planos de distribuição da assistência alimentar humanitária dos parceiros do FSC | Actualização da Perspectiva Regional de Oferta e Mercados da África Austral – Abril 2024 | Dados geoespaciais, produtos via satélite, e produtos de dados derivados |
| Comunicado de Imprensa sobre o Índice de Preços ao Consumidor de Agosto de 2024 pelo Instituto Nacional de EStatísticas (INE) | Entrevistas de informantes chave com extensionistas locais, parceiros de implementação humanitária e líderes comunitários | A Matrix de Rastreamento de Deslocados da Organização Internacional para Migrações (IOM/DTM) |
| Censo dos Mineiros Artesanais em Moçambique - Outubro 2022 | Análise IPC da Insegurança Alimentar e Malnutrição Aguda Abril de 2024 – Março de 2025 Publicada em Agosto de 2024 | Perdas da produção resultantes de ataques de pragas /doenças |
Utilizando os principais pressupostos que sustentam o cenário “mais provável”, a FEWS NET consegue projectar resultados de insegurança alimentar aguda, avaliando a evolução da capacidade das famílias de satisfazer as suas necessidades caloríficas mínimas ao longo do período de projecção. Como para a análise dos actuais resultados de insegurança alimentar aguda, a FEWS NET converge as expectativas da trajectória provável do consumo alimentar a nível familiar e da mudança das formas de vida com o estado nutricional e a mortalidade ao nível da área. A FEWS NET asseguir classifica os resultados da insegurança alimentar aguda utilizando a escala IPC. Por último, a FEWS NET aplica o símbolo “!”para indicar as zonas provavelmente estariam pelo menos numa pior na ausência de assistência alimentar planificada – e provavelmente a ser financiada e prestada.
Zonas Sul e Centro:
De Outubro de 2024 a Janeiro de 2025: O início da época chuvosa e agrícola de 2024/2025 está prestes a começcar com as previsões a indicarem um início normal. No entanto, os impactos da seca induzida pelo El Niño durante a época 2023/2024 poderão persistir até à colheita principal em Abril de 2025. As famílias muito pobres continuarão a enfrentar défices no consumo de alimentos, e esta situação poderá deteriorar-se com o tempo à medida que a época de escassez atinge o pico em Dezembro e Janeiro. As famílias muito pobres dependerão principalmente do auto emprego para ganhar dinheiro para comprar alimentos, incluindo trabalho ocasional como a produção e venda de carvão, uma actividade praticada por um número crescente de famílias em detrimento da degradação do ambiente. As famílias muito pobres exploram recursos florestais, como o corte e venda de estacas, caniço e capim/palha, o que geralmente envolve longas viagens. Com o aumento da procura de água, algumas pessoas dedicam-se na coleta do precioso líquido em troca de comida ou dinheiro. As famílias que possuem membros com algumas habilidades, tais como construção, fabrico e venda de tijolos de barro, produção de bebidas tradicionais e produção de utensílios artesanais. Contudo, devido à concorrência, à falta de acesso ao mercado e à baixa procura por parte de potenciais compradores, é pouco provável que esta opção satisfaça as necessidades alimentares e de renda das famílias. A disponibilidade de alimentos nos mercados locais poderá diminuir, enquanto a procura das famílias deverá aumentar. Isto resultará num aumento dos preços dos alimentos básicos, que poderão atingir o seu pico em Janeiro. O poder de compra das famílias poderá estar muito abaixo da média devido aos baixos níveis de renda, levando a um acesso limitado aos alimentos.
O número de famílias com insegurança alimentar, especialmente nas zonas semiáridas remotas, com acesso limitado aos alimentos silvestres e a oportunidades de emprego, poderá aumentar. Estas famílias acabarão por ser forçadas a adoptar estratégias de sobrevivência severas, indicativas de Crise (IPC Fase 3). Estas estratégias podem incluir enviar um membro da família para comer algures, consumir reservas de sementes, retirar crianças da escola, saltar ou reduzir refeições, dar prioridade ao consumo alimentar das crianças, optar por alimentos menos preferidos e mais baratos, pedir comida emprestada a vizinhos, depender de amigos ou familiares para obtenção de alimentos e depender mais de alimentos silvestres, que normalmente são consumidos como último recurso. O número de famílias em situação de “Estresse” (IPC Fase 2) também poderá aumentar. Estas famílias podem conseguir satisfazer as suas necessidades caloríficas mínimas, mas podem enfrentar dificuldades em obter renda suficiente para sustentar as suas formas de vida básicas. Como resultado, estas famílias priorizam despesas com alimentação em detrimento da saúde, educação e outros bens não alimentares.
O início da época chuvosa e agrícola de 2024/2025 incentivará as famílias a começarem a limpar e preparar as terras. Em Novembro, começarão a semear onde se espera que ocorram precipitações adequadas. O auto emprego diminuirá gradualmente passando as famílias a se dedicarem em actividades agrícolas, mas a magnitude da sementeira dependerá da disponibilidade de sementes. Haverá mais oportunidades do trabalho agrícola, mas não há certeza de que a maioria das famílias pobres conseguirá receber pontualmente as suas remunerações, uma vez que as famílias ricas poderão ser incapazes de efectuar tais pagamentos antes da colheita em Abril de 2025. No geral, com a melhoria gradual da precipitação, a disponibilidade de alimentos silvestres poderá aumentar. A precipitação favorável prevista também fornecerá água para o consumo humano e animal e aumentará a disponibilidade do pasto, melhorando gradualmente as condições físicas dos animais.
Fevereiro a Maio de 2025: Durante este período, a área poderá transitar do pico da época de escassez para a colheita principal da época 2024/2025. Nos primeiros dois meses, de Fevereiro a Março, o acesso aos alimentos poderá deteriorar-se devido aos persistentes efeitos da seca induzida pelo El Niño, combinados com os efeitos do pico da época de escassez. As famílias muito pobres continuarão a enfrentar dificuldades de acesso aos níveis adequados de alimentos, dependendo principalmente do auto emprego, que pode não ser rentável devido à concorrência, falta de acesso ao mercado e baixa procura. Como resultado, estas famílias terão um baixo poder de compra, levando a dificuldades na compra de alimentos básicos. O número de famílias com insegurança alimentar, especialmente em zonas semiáridas remotas, poderá aumentar. A disponibilidade gradual de alimentos verdes em Março será crucial para estabilizar ou melhorar os níveis de consumo de alimentos e evitar qualquer deterioração da desnutrição aguda. No geral, um número crescente de famílias muito pobres poderá recorrer a estratégias de sobrevivência severas, indicativas de Crise (IPC Fase 3). Estas estratégias podem incluir enviar um membro da família para comer algures, esgotar as reservas de sementes, retirar as crianças da escola, saltar ou reduzir refeições, dar prioridade ao consumo alimentar das crianças, optar por alimentos menos preferidos e mais baratos, pedir comida emprestada a vizinhos, familiares ou amigos, e depender mais de alimentos silvestres. A disponibilidade de alimentos no mercado diminuirá e os preços permanecerão elevados. As famílias muito pobres continuarão a enfrentar escassez de alimentos, enquanto se dedicam cada vez mais no trabalho agrícola durante a próxima época. De Abril a Maio, a situação geral de segurança alimentar deverá melhorar com a disponibilidade gradual da colheita verde e começo da colheita principal. As famílias muito pobres poderão consumir os alimentos provenientes da sua produção e melhorar o consumo de alimentos. Os preços dos alimentos básicos nos mercados locais poderão diminuir sazonalmente devido ao aumento da oferta proveniente da colheita principal, melhorando o acesso aos alimentos no mercado para aqueles que continuarem dependentes dos mercados. A reposição dos níveis de água e pasto facilitará a reprodução dos animais, o que favorecerá a reposição dos animais vendidos durante os períodos críticos. A situação da segurança alimentar poderá melhorar da Crise (IPC Fase 3) para Mínima (IPC Fase 1) para a maioria das famílias ou “Estresse” (IPC Fase 2) para as famílias que foram mais afectadas e que estão a recuperar lentamente. A Crise (IPC Fase 3) é esperada ao nível da área de Fevereiro a Maio de 2025.
Cabo Delgado (áreas afectadas pelo conflito):
Durante todo o período do cenário, a maioria das áreas afectadas pelo conflito continuará a registar Crise (IPC Fase 3). Devido aos ataques esporádicos dos grupos armados não estatais, o clima de tensão e medo persistirá. Isto terá um impacto negativo nas actividades básicas de subsistência, tais como a capacidade de geração de renda da agricultura. O movimento de deslocados internos e de retornados colocará desafios significativos aos esforços de resposta humanitária, uma vez que o número flutua ao longo do tempo e em diferentes locais. Tanto os deslocados internos como os retornados enfrentarão escassez de alimentos e necessitarão de assistência humanitária urgente em termos de abrigo e alimentos.
Em alguns distritos, a presença de agências humanitárias pode ser limitada devido à insegurança e à dificuldade de acesso, tornando difícil alcançar os necessitados. Esta situação poderá agravar-se devido à provável destruição das vias de acesso como resultado das chuvas sazonais a partir de Novembro.
Por outro lado, não há recursos suficientes para as acções de resposta, o que é agravado pela crescente procura de assistência humanitária nas zonas afectadas pela seca induzida pelo El Niño nas regiões sul e centro do país. Devido a estes desafios, os distritos de Ancuabe, Chiúre, Ibo, Macomia, Mecúfi e Meluco poderão permanecer em Crise (IPC Fase 3). Entretanto, distritos como Mocímboa da Praia, Muidumbe, Nangade e Quissanga, que deverão receber assistência alimentar regular, poderão registar Estresse! (IPC Fase 2!). Em Nampula, os distritos de Eráti e Memba poderão melhorar para “Estresse” (IPC Fase 2) devido ao alívio resultante do regresso progressivo dos deslocados internos que estiveram alojados naqueles distritos.
Zonas costeiras (incluindo as propensas a ciclones):
Entre Novembro de 2024 e Abril de 2025, há uma maior probabilidade de ocorrência de tempestades ou ciclones tropicais em certas zonas ao longo da costa moçambicana. Estes eventos climáticos poderão trazer ventos ciclónicos, chuvas fortes e cheias. Como resultado, as infraestruturas e os campos agrícolas com culturas em vários estágios de crescimento poderão ser destruídos: os ventos fortes poderão danificar as culturas, especialmente em zonas altas, enquanto as culturas em zonas baixas poderão ser inundadas. As casas de construção precária também poderão ser danificadas, o que aumentará o número de deslocados internos e aqueles que buscam abrigo nos centros de alojamento durante pelo menos três meses. Nas zonas afectadas por sistemas ciclónicos, as famílias mais pobres poderão enfrentar escassez de alimentos. Isto poderá levar à Crise (IPC Fase 3), exigindo assistência alimentar humanitária e outros tipos de assistência para as famílias mais afectadas até que estas possam recuperar, o que pode levar no mínimo três meses.
Situação nutricional projectada a nível nacional:
De Outubro de 2024 a Março de 2025, a desnutrição aguda poderá registar um agravamento devido ao aumento dos défices calóricos causados pelo consumo insuficiente de alimentos por muitas famílias de baixa renda nestas zonas. Apesar disso, os níveis de classificação poderão permanecer entre Aceitável (Fase 1) com GAM inferior a 5 por cento e Alerta (Fase 2) com GAM entre 5 e 9,9 por cento para a maioria das famílias. No entanto, em alguns distritos com desnutrição crónica tipicamente elevada, como Morrumbala, Eráti, Memba e Nicoadala, a desnutrição aguda poderá persistir ou piorar para Grave (IPC Fase 3) com GAM entre 10 e 14,9 por cento. Em Abril e Maio de 2025, à medida que o acesso aos alimentos melhorar gradualmente para a maioria das famílias pobres e muito pobres, os níveis de desnutrição aguda deverão variar entre Aceitável (Fase 1) com um GAM inferior a 5 por cento e Alerta (Fase 2) com um GAM entre 5 e 9,9 por cento para a maioria das zonas.
Embora as projecções da FEWS NET sejam consideradas o cenário “mais provável”, existe sempre um certo grau de incerteza nos pressupostos que sustentam o cenário. Isto significa que as condições de segurança alimentar e os seus impactos na segurança alimentar aguda podem evoluir de forma diferente do previsto. A FEWS NET emite actualizações mensais às suas projecções, mas os tomadores de decição precisam de informação de forma antepada sobre esta incerteza e de uma explicação do porquê as coisas podem resultar de forma diferente do projectado. Assim sendo, o passo final no processo de desenvolvimento de cenários da FEWS NET é identificar rapidamente os principais eventos que resultariam num cenário alternativo credível e alterariam significativamente os resultados projectados. A FEWS NET considera apenas cenários que tenham uma probabilidade razoável de ocorrência.
Nacional:
Início tardio e errático das chuvas
Impacto provável nos resultados da insegurança alimentar aguda: O início tardio e errático da época agrícola 2024/25 poderá atrasar a disponibilidade do trabalho agrícola. Apesar dos salários abaixo da média, tanto em dinheiro como em espécie, uma redução significativa na renda poderia exacerbar os níveis de consumo de alimentos das famílias pobres e muito pobres que já dependem do mercado e enfrentam dificuldades para satisfazer as suas necessidades alimentares.
Zonas semiáridas do sul e centro:
Os comerciantes não respondem conforme previsto e não são importadas reservas adicionais dos mercados internacionais para serem fornecidas às zonas de produção deficitária.
Impacto provável nos resultados da insegurança alimentar aguda: Os mercados locais estarão mais subabastecidos do que o previsto, aumentando consequentemente os preços dos alimentos para níveis não previstos. Os défices no consumo de alimentos, especialmente das famílias pobres e muito pobres, aumentariam.
Resposta inadequada às necessidades de assistência humanitária
Impacto provável nos resultados da insegurança alimentar aguda: A assistência humanitária insuficiente resultaria num aumento do número de famílias pobres e muito pobres com maiores défices no consumo de alimentos e um potencial aumento da desnutrição aguda.
Citação recomendada: FEWS NET. Moçambique Previsão de Segurança Alimentar Outubro 2024 - Maio 2025: Crise (IPC Fase 3) prevista nas regiões sul, centro e norte, 2024.
Para projectar as condições de segurança alimentar ao longo de um período de seis meses, a FEWS NET desenvolve um conjunto de pressupostos sobre eventos prováveis, seus efeitos e as respostas prováveis de diversos actores. A FEWS NET analisa esses pressupostos, no contexto das condições actuais e formas de vida locais para desenvolver cenários estimando as condições de segurança alimentar. Normalmente, a FEWS NET reporta o cenário mais provável. Para saber mais, clique aqui.